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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Crítica de "O Besouro Verde"


O Besouro Verde Senta que lá vem história. Tudo começou com o escritor e roteirista Fran Striker, que em 1936 criou para uma emissora de rádio o personagem Besouro Verde. O sucesso foi tanto que o seriado permaneceu no ar até 1952. O herói foi adaptado para seriados de cinema nos anos 40, para série de TV em 1966, virou um longa-metragem produzido em Hong Kong em 1994 e até um curta francês em 2004.

Você vai ler em alguns lugares que o criador de Besouro Verde foi George Trendle. Não foi. Trendle era o patrão de Striker, e comprou dele os direitos do personagem, em troca de um emprego fixo. Uma curiosidade é que Striker também criou para o rádio o personagem Lone Ranger, que mais tarde virou seriado de TV e – sabe-se lá porque – aqui no Brasil foi batizado como Zorro. Não aquele Zorro de preto, do Sargento Garcia, mas o Zorro amigo do índio Tonto. Sim, faz muito tempo que as traduções brasileiras fazem lambança. Ah, George Trendle também comprou os direitos de Lone Ranger de Fran Striker.

Mas voltando ao Besouro Verde, entre todas as adaptações, certamente a mais famosa foi a da televisão. Foram 26 episódios produzidos pela Fox entre 1966 e 67, tendo à frente o produtor William Dozier. O mesmo do enorme sucesso Batman, que transformou o cavaleiro das trevas num desajeitado paladino da justiça. Foi pela porta do Besouro Verde da Fox que Bruce Lee entrou no mercado americano (depois de já ter atuado em quase duas dezenas de produções orientais), interpretando o fiel escudeiro Kato.

O papel principal era de Van Williams, que nunca decolou na carreira. O sucesso deste seriado gerou um constrangedor caça níqueis, em 1974, quando alguns episódios foram remontados sob o formato de longa metragem, com o mórbido objetivo de capitalizar em cima da morte de Bruce Lee, ocorrida no ano anterior.

Agora, 65 anos após a sua criação, o Besouro Verde volta aos cinemas sob a direção de Michel Gondry, o mesmo de
Rebobine, Por Favor. No novo filme, Britt Reid (Seth Rogen, de Pagando Bem que Mal Tem?, visivelmente mais magro) é um playboy milionário que vive da fortuna acumulada por seu pai, James (o ótimo Tom Wilkinson, desperdiçado), um respeitado dono de jornal. Porém, quando James morre repentinamente, Britt percebe que não passa de um sujeito mimado e incapaz. Até para fazer seu café ele depende dos outros. Principalmente de Kato (Jay Chou, ator e cantor popular em Taiwan, estreando no ocidente), misto de mecânico, chofer e mordomo que ele sequer conhecia antes da morte do pai.

Amparado por Kato, Britt decide sair à noite para fazer mais uma de suas molecagens inconsequentes, e sem querer descobre que seu novo amigo/mecânico é perito em artes marciais. Nasce então a ideia: que tal assumir uma identidade secreta e sair por aí bancando os super-heróis? É o que eles fazem.

Esta releitura do antigo herói para as novas gerações opta por um procedimento perigoso: aqui, o Besouro Verde foi transformado num paspalho, numa clara subversão de Gondry ao personagem original. E numa claríssima concessão comercial para tentar atrair um público maior. Não seria uma opção de todo condenável, não fosse por um grave senão: o roteiro de Evan Goldberg (de
Superbad – É Hoje) e do próprio Seth Rogen não tem gags, piadas, graça nem humor suficientes para transformar o filme numa boa comédia. Nem inventividade para classificá-lo como uma boa produção de super-herói.

Nos minutos finais, talvez numa tentativa de salvar o ritmo do filme, uma interminável e inócua sequência de ação e correria busca preencher os olhos e ouvidos do público. Em vão.
O Besouro Verde fica num meio termo perigoso, num limbo de qualidade insuficiente que acaba desagradando tanto o novo público que busca por diversão, quando o antigo que gostaria de rever seu herói numa nova roupagem.

A própria presença de Cameron Diaz no papel feminino principal parece perdida, não destilando sua sensualidade de sempre, tampouco desenvolvendo um suposto lado feminista que a personagem acena, a princípio, mas que não tem espaço dentro da trama para desenvolver. Trata-se, literalmente, de uma presença meramente decorativa.

Até o tema musical do seriado, baseado na vibrante peça clássica O Vôo da Abelha, de Rimsky-Korsakov, é subaproveitado no longa, durando rapidíssimos segundos já nos créditos finais. Salvam-se apenas o caprichado nível de produção e dos efeitos, e o vilão vivido pelo austríaco Christoph Waltz, destaque como o oficial nazista de
Bastardos Inglórios. É pouco.

Claro, tudo isso sem falar que o 3D (ou, no caso, a falta dele) é um verdadeiro caso de polícia, de descaso ao Código do Consumidor e de abuso da paciência do público: absolutamente nada no filme justifica o preço do ingresso 3D.

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